segunda-feira, 11 de agosto de 2014

VILA MIGUELZINHO – UMA COMUNIDADE COM MOVIMENTO MESSIÂNICO

Nosso município (Santo Antônio da Patrulha) foi notícia no jornal Correio do Povo em 31 de julho de 1952. A reportagem noticiava um “Reduto de Fanáticos em Santo Antônio” desenvolvida pelos repórteres Sady Rafhael Saadi e Nito Vidarte. 
No vale do Arroio Guimarães (hoje Município de Caraá) formou-se uma comunidade conhecida como “Vila Miguelzinho” ou “Vilinha” fundada por Miguel Ramos de Oliveira. Esse líder religioso, conhecedor de plantas medicinais, se dizia portador de dons mediúnicos. Instalou-se na localidade de Fundo Quente (hoje Vila Nova) iniciando sua pregação e realizando curas. Mais tarde passou a peregrinar espalhando seus ideais.
Voltando à região, no início da década de 50, instalou-se junto ao Arroio Guimarães aglomerando famílias e anunciando o apocalipse. Descrito pelos repórteres como o maior reduto de fanáticos do Rio Grande do Sul, no local residiam mais de 1200 pessoas entre homens, mulheres e crianças. Aos homens era necessário usar bigodes e as mulheres usavam cabelos compridos e vestidos fechados.
A organização de Miguelzinho enquadra-se nos movimentos messiânicos difundidos no Brasil no início de século XX. Um líder religioso (messias) com poderes sobrenaturais prega o reino celeste na terra e organiza a comunidade com leis de convívio.
Mas o que teria levado o jornal Correio do Povo até a comunidade organizada por Miguelzinho? Uma denúncia, recebida pela polícia de Porto Alegre, envolvendo manifestações de barbárie. Dois operários de uma fábrica de móveis da capital teriam levado o fato até a Central de Polícia. Em visita a familiares que residiam na vilinha tomaram conhecimento do ritual de sugar o sangue de crianças até o falecimento.
Essa denúncia repercutiu na capital do Estado levando a Central de Polícia a instauração de processo e designando o inspetor Alfredo Azambuja Sobrinho até o local. A Delegacia de Polícia de Santo Antônio, na época, informou que a mesma denúncia foi feita no ano de 1923 e resultou na prisão de Miguel, mas nada de verídico foi constatado.
Também o vigário da região prestou depoimentos aos repórteres relatando que a prática “segue rituais cristãos misturados com rituais espirituais, através de médiuns com seus guias, que são os missionários Marcelino Antônio da Luz e José Laurindo Ramos de Oliveira”.
Por último a reportagem descreve a vila de Miguelzinho com habitações de tabuas cobertas de capim. “Homens de aspecto triste, desconfiados e cabeludos levam uma vida incerta e sem profissão definida”. Apesar da repercussão na cidade e na capital, ninguém conseguiu provar que a prática da comunidade envolvia tais rituais.
Com a morte de Miguel, o trabalho messiânico foi continuado pela esposa Armandina de Oliveira e por fiéis mais íntimos. Em 1999, a pesquisadora de folclore, Lílian Argentina Braga Marques, visitou a comunidade e constatou que no culto existe um “entrelaçamento de rituais católicos, protestantes e espirituais”. Realizam cultos às quartas-feiras e aos sábados considerados sagrados. Cultuam a semana santa, páscoa, quaresma, finados e no natal o pinheiro e o presépio. Na primeira fileira adiante do altar do templo reserva-se um grupo de mediúnicos na figura de senhoras que vestem hábitos de freiras de cor azul clara. O rosário de Maria é cantado por dona Armandina de Oliveira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário