domingo, 19 de abril de 2015

Construção de Identidade e heráldica – Santo Antônio da Patrulha e os símbolos oficiais

A representatividade de brasões e bandeiras, obviamente, chegou à América com os colonizadores portugueses e espanhóis. Eles tinham, na visão europeia, a função de identificar e demarcar uma posse ou a propriedade de um território. Essa prática desenvolveu-se em todo o período de colonização do Brasil e da América. Assim, quando o Brasil nasceu como país, em 07 de setembro de 1822, os símbolos da nação foram confeccionados de forma a representarem a jovem monarquia brasileira. A partir de então, os estados também passaram a confeccionar suas próprias simbologias, empregando nesses as suas temáticas locais. No caso do Rio Grande do Sul, as constantes lutas entre portugueses e espanhóis, pela posse do território, fez com que a simbologia também incorporasse influência dos dois países e com práticas revolucionárias, como é o caso do Hino Rio-Grandense, na qual letra e melodia inicial foram trabalhadas em 1838 por Francisco Pinto da Fontoura e Joaquim José de Mendana.
Findado o regime monárquico no Brasil e implantado o regime republicano em 15 de novembro de 1889, novos símbolos foram confeccionados. Dessa vez com influências da doutrina positivas criada pelo Francês Augusto Conte no século XIX. A república foi representada pela imagem de mulher forte, farta e fértil, destinada a dar muitos filhos e frutos ao Brasil. Alegorias de representações que buscavam nas vivências e práticas dos antepassados uma projeção para o futuro. A frase “Ordem e Progresso” é uma fiel representante do positivismo, em que somente seria possível um progresso no futuro mediante à implementação de uma ordem no presente, com bases no passado. Os símbolos nacionais foram fortemente difundidos durante o período do Estado Novo (1937/1945), em que o Presidente Getúlio Vargas, determinou que fossem queimadas as bandeiras dos estados para construção do projeto de identidade nacional. As diferenças regionais no imenso Brasil foram largadas na ilegalidade para despertar em todos os indivíduos o pertencimento de ser brasileiro. Posteriormente, ao findar o Estado Novo, as culturas regionais se fortificaram e foi fundado no Rio Grande do Sul, em 24 de abril de 1948, o 35 CTG – Centro de Tradições Gaúchas.
A arte de confeccionar e estudar brasões é denominada de heráldica. Ao longo da história do Brasil, a heráldica acompanhou não somente o poder público, mas sim também as famílias nobres, em especial as dos barões, duques e condes que receberam títulos de nobreza durante o segundo império. No município gaúcho de Santo Antônio da Patrulha, a primeira legislação existente, referente aos símbolos municipais, foi criada em 21 de agosto de 1961. A lei nº 780 adotou e definiu o brasão como símbolo a ser utilizado nos documentos oficiais. Em um único artigo, em forma descritiva foi empregada toda a definição do brasão. Não há uma explicação para essas simbologias e tão pouco se sabe o caminho que o processo levou até chegar a lei definitiva, aprovada pela Câmara Municipal de Vereadores em sessão e sancionada pelo Prefeito Jorge Von Saltiel. Frente à ausência de dados, a forma de entender a representatividade do brasão do município é buscar a contextualização histórica, vivida até aquele momento. Vejamos o que diz o artigo 1º da Lei nº 780/1961.
“Será adotado como símbolo deste Município um duplo escudo português. No primeiro em fundo azul com quinze estrelas. O segundo em dois campos, o primeiro campo dividido em três quartéis. No primeiro quartel a direita uma guarita sobre campo verde em céu de ouro. No segundo quartel uma cruz dos descobridores, no terceiro quartel uma cabeça de vacum. O segundo campo, em campo verde uma roda dentada e um arado de disco. Como apoio laterais, no lado esquerdo uma cana de açúcar e no direito uma espiga de arroz. Uma faixa em vermelho estilizada com o lema: HOSPITALIDADE, JUSTIÇA E LABOR. Abaixo em negrito as datas 1730-1809. Uma coroa mural, em prata com quatro castelos fortes com quatro ameias.”
Começaremos pelas laterais, onde na direita foi representada uma espiga de arroz e a esquerda, uma cana de açúcar. Cana e arroz eram os produtos que fomentavam a economia patrulhense em 1960. A cultura do arroz que passou a ser desenvolvida em larga escala a partir dos anos 20 era o produto que mais gerava riquezas a Santo Antônio da Patrulha, por isso foi posta ao lado direito do brasão. No outro lado, a economia da cana de açúcar que possuía um histórico de produção desde a colonização, havia perdido posição para o arroz, mas via nascer nas cooperativas de produtores, o apoio do estado gaúcho para a implementação da AGASA – Açúcar Gaúcho S. A. Assim como na ordem de disposição das bandeiras, o que tem mais importância vem à direita, a espiga de arroz, que naquele momento, era o recente produto de ponta do município, em contraponto a cana de açúcar à esquerda.
A descrição do brasão começa com a adoção de um escudo português, o que justifica-se pela colonização com a presença lusa na região. Assim como a formação do município de Santo Antônio da Patrulha efetivou-se com os povoadores luso-açorianos, o brasão foi formado com a base do escudo de Portugal.  No escudo português, na cor azul inseriu-se 15 estrelas. Aqui a influência é do brasão de armas e da bandeira do Brasil. Azul para representar o céu onde as estrelas brilham e em número de 15 para representar a idade do município. Contados a partir do documento de criação de 1809, Santo Antônio da Patrulha, completou 150 anos no ano de 1959. Dessa forma, o brasão patrulhense, criado no ano de 1961, recebeu 15 estrelas comemorativas, representadas em décadas, que brilharam no céu do município. No segundo escudo a divisão se deu em cinco partes, sendo que a primeira metade foi dividida em três quartéis. No quartel da direita, simbolizando a importância, uma guarita sobre um campo verde em céu de ouro. A guarita representava a guarda criada no século XVIII para tributar impostos sobre as cabeças de gado que eram arrebanhados na região. No campo verde, a simbologia dos campos de terra fértil e o céu de ouro a simbologia da arrecadação de impostos e a inserção do Rio Grande do Sul na economia colonial do Brasil. No quartel do centro foi posta a cruz dos descobridores, mais uma vez a marca portuguesa no processo de colonização do estado. No quartel da esquerda, uma cabeça de vacum completou a faixa histórica do brasão do município, o qual se desenvolveu a partir do ciclo do troperismo no século XVIII. O segundo campo foi dividido em dois quartéis e nesses foram inseridos elementos da atualidade. No quartel da direita, portanto mais importante, um arado de disco em campo verde. A simbologia aqui representou a agricultura do município e o pioneirismo nos maquinários agrícolas para a lavoura de arroz. No quartel da esquerda, uma roda dentada, símbolo da indústria e comércio, também em campo verde, firmando novamente a vocação agrícola de Santo Antônio da Patrulha.
Abaixo do escudo, foi posto um faixa em vermelho, com o lema “HOSPITALIDADE, JUSTIÇA E LABOR”. A inserção da cor vermelha justifica-se pela escolha em trabalhar as cores do brasão e bandeira de Portugal e do Brasão das armas do Brasil. Em ambos, as cores verde, amarelo, azul e vermelho estavam presentes, sobretudo o vermelho representa sangue forte que no caso do Rio Grande do Sul foi capaz de provocar revoluções. Na palavra hospitalidade, buscou-se inspiração na comercialização do sonho. Na década de 1960, a passagem de turistas pela RS-030 e a tradicional parada em Santo Antônio da Patrulha para um café com sonho, tornou a cidade famosa e hospitaleira. Para as palavras justiça e labor a representação estava no trabalho dos patrulhenses e na crença de que a justiça gera o reconhecimento e o trabalho gera a justiça.
Na parte superior, foi introduzida uma coroa mural, em prata com quatro castelos fortes e quatro ameias. Na religiosidade portuguesa, a coroa é um dos símbolos do Divino Espírito Santo, crença presente em Santo Antônio da Patrulha, trazida pelos colonizadores luso-açorianos. Sobretudo, era comum inserir coroa mural em brasões, pois essa representava a fortuna, a proteção e a autonomia de uma cidade. Em Portugal, a cor prata era empregada nas coroas dos municípios, visto que para a capital e regiões administrativas a cor era o ouro. O número de torres também é representativo de autonomia. No geral, o que e empregado em brasões municipais, são cinco e não quatro torres, sendo que três torres são de frontal e duas em meia imagem por estarem posicionadas nas laterais. As ameias estão equivocadas, pois em se colocando quatro torres é possível ter apenas três e não quatro ameias. A cor prata também representa pureza e religiosidade.
Por fim, na parte mais estrema do brasão, foram colocadas as datas 1730-1809. A primeira fazendo alusão à data de povoamento e abertura da estrada real por Cristóvão Pereira de Abreu e a segunda à provisão real de 07 de outubro de 1809 que criou quatro municípios gaúchos: Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha. Contudo, na década de 1990, com a publicação de novos estudos históricos, essas datas foram alteradas pela lei n.º2.366/91, a qual estabeleceu 1760-1811. A primeira fazendo referência à instalação da capela curada em 31 de agosto de 1760, construída por Inácio José de Mendonça e Silva e Margarida Exaltação da Cruz. Quanto à segunda data, a referência foi à instalação do Município em 03 de abril de 1811.
A que se considerar, ainda, o brasão que foi desenhado em pedra portuguesa na parte central da Praça da Matriz Arquipélago dos Açores na Cidade Alta. O autor dos desenhos da praça, Nelson Osíris, registrou nos anais do evento Raizinha 1998 – Santo Antônio da Patrulha Re-conhecendo sua história, que a Praça foi construída em 1965 e nessa ocasião tomou contato com o brasão. Entretanto, o brasão lá desenhado possui algumas diferenças com relação ao da legislação de 1961, visto que foram supridos o pé de cana de açúcar e a espiga de arroz das extremidades laterais e também a parte central foi dividida em sete quarteis ao invés de cinco Os três quarteis superiores apresentam características iguais á legislação e nos quatro quartéis inferiores não é mais possível identificar os elementos desenhados. Por fim, as datas inseridas no brasão da praça (1719 – 1809) também diferem da legislação. Isso leva a crer que o brasão já existia antes de 1961, muito embora não tivesse ainda uma legislação que o regulamentasse. Essa baliza temporal entre 1961 a 1965 seria um espaço muito curto para que uma legislação como a de um símbolo municipal estivesse já plenamente divulgado e mais difícil ainda se essa passasse a concorrer com informações anteriormente divulgadas. O fato é que o brasão desenhado na praça em 1965 possui elementos diferentes daquele que foi legalizado em 1961.
Os outros dois símbolos oficiais do Munícipio de Santo Antônio da Patrulha, o hino e a bandeira, tiveram um caminho diferente do brasão. Conforme registro da historiadora Corália Ramos Bemfica, eles foram trabalhados para fazer a divulgação da 1ª EXFEPA – Exposição Feira Patrulhense, a qual ocorreu em 10 de dezembro de 1974 no Parque de Exposições do Sindicato Rural em Barro Vermelho. O evento era uma programação inclusa ao projeto do Governo do Estado denominado de “Torne o Rio Grande mais Belo a partir de seu Município” e visava à valorização da cultura local. A historiadora registra ainda que para o concurso de escolha da bandeira não teve vencedor. A melhor gravura sofreu alterações. Já o hino patrulhense venceu a letra de Regina Barcelos dos Santos que valorava o trabalho e exaltava as belezas naturais e a geografia local lembrando que “o sinos majestoso serpenteia entre montes, campos verdes e floridos”. A melodia era de autoria de Ilza Hartmann e a primeira apresentação do Hino de Santo Antônio foi realizada durante a EXFEPA pelo coral de alunos da Escola Padre Reus. 
Ao que se vê, os símbolos escolhidos no concurso da EXFEPA em 1974 não foram oficializados. O Hino do Município, apesar de ser cantado e tocado nos cerimoniais, somente teve a sua regulamentação legal em 09 de setembro de 1999, com a Lei 3.422. Quanto à bandeira, essa foi instituída pela Lei 1.313 de 24 de dezembro de 1975, sancionada pelo Prefeito Gelso Marcelo Bier, porém não o desenho apresentado na feira. A lei que criou a bandeira também é descritiva e não justifica seus elementos:
“Será adotado como Símbolo do Município, além do escudo já existente, a bandeira do Município, que possui a forma retangular, nas cores azul e branca, distribuídas da seguinte forma: partindo da extremidade esquerda superior com a largura igual à metade de que tiver a bandeira  sairá uma faixa branca, inclinada para baixo: no centro desta faixa, haverá o escudo do Município com sua cor e forma oficial; o restante da bandeira na cor azul-noite”
                As cores escolhidas para representar Santo Antônio da Patrulha foram azul noite e branco, influência da bandeira dos Açores e também do azul e branco da bandeira do Brasil, em que a faixa branca simboliza o Rio Amazonas. Na bandeira de Santo Antônio, a faixa branca simboliza o Rio dos Sinos, que já na década de 1970, era pauta de preservação e ligação entre os municípios cortado pelo seu leito. O branco também simboliza a paz que corta o azul da noite, símbolo da harmonia no céu onde brilham as estrelas festivas.
            No ano de 2000 foi realizada uma eleição para escolher entre os pontos turísticos, o símbolo do Município. O vencedor foi a Fonte Imperial. Dessa vez, o símbolo foi oficializado com a Lei nº 3.641 de 28 de dezembro de 2000. O texto também é descritivo e direto:
“Fica adotado como símbolo do Município de santo Antônio da Patrulha, além do Escudo, da Bandeira e do Hino, já existentes, a FONTE localizada na rua Avelino Luíz de Oliveira, esquina com a Senador Pinheiro Machado.
                Frente à análise desses elementos concluímos que a construção da simbologia oficial de Santo Antônio da Patrulha se desenvolveu em 40 anos no período de 1960 a 2000 e que os textos das leis são simples e descritivos. Não há maiores registros que possam ilustrar e justificar a escolha dos elementos simbólicos. Contudo, é essencial que eles sejam identificados e representem todos os patrulhense, bem como sejam também revisados, se for o caso, e adequado às realidades do Município.

Fontes:
- Lei nº 780 de 21 de agosto de 1961;
- Lei nº 1.313 de 24 de dezembro de 1975;
- Lei nº 2.366 de 11 de junho de 1991;
- Lei nº 3.422 de 09 de setembro de 1999;
- Lei nº 3.461 de 28 de dezembro de 2000.

Referencias Bibliográficas:
BEMFICA, Corália Ramos. BARROSO, Véra Lúcia. FIGUEIREDO, Lézia Maria Cardoso de. BIER, Terezinha de Jesus Benfica. (Organizadoras). Santo Antônio da Patrulha – Re-conhecendo sua História. Porto Alegre, EST, 2000.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das Almas: O imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
LUZ. Milton. A história dos símbolos nacionais: a bandeira, o brasão, o selo, o hino. Brasília: Senado Federal, Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 1999 (1ª. edição).

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre; Mercado Aberto; 1980.

sábado, 22 de novembro de 2014

FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA

Vinculado à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas (1494), o território do Rio Grande do Sul, foi cenário de lutas constantes entre portugueses e espanhóis, desde a fundação da Colônia do Sacramento (1680), localizada à margem do Rio da Prata (hoje território do Uruguai). O intento português era desviar a prata extraída pelos espanhóis e transportada para Espanha através de Buenos Aires. Seria vital aos portugueses manter uma linha de ligação, ocupando o território espanhol de Laguna (final da linha de Tordesilhas) até Sacramento. Com isso, a Coroa Portuguesa estaria estendendo seus domínios até o Rio da Prata e desenvolvendo uma nova atividade no processo de exploração: a preia do gado xucro. Neste período, a carne não era considerada um bem econômico, pois se consumia somente o necessário para subsistência da ocasião, deixando-se apodrecer o restante. O que interessava era a comercialização do couro. Esta atividade movimentou a região e atraiu o interesse pela pecuária sulina.

Para frear essa ação portuguesa, a coroa espanhola fundou os Sete Povos das Missões, a partir de 1682, onde a presença jesuítica deveria defender a posse da região e conservar o gado xucro estabelecido na “Vacaria Del Mar”. Tal ação jesuítica consistiu em separar parte do rebanho para a região nordeste e formar uma nova reserva, a “Vacaria dos Pinhais”.

No inicio do século XVIII, o eixo econômico da colônia Brasil, desloca-se do nordeste açucareiro para região central. Frente a isso, o ouro, o principal produto colonial necessitaria de transporte interno da região das minas até o litoral. Para efetuar o abastecimento dos mineradores e transportar o ouro, paulistas e lagunistas deslocaram-se para o território do Rio Grande do Sul, objetivando capturar o gado xucro, em especial o gado muar.  Com isso, estancieiros começaram a estabelecer-se na região para invernar o gado. Surgiu assim uma nova atividade no contexto sulino: os tropeiros, responsáveis pelo transporte do gado.

Em 1732 é feita a doação da primeira sesmaria: “Estância das Conchas”, nas imediações de Tramandaí, para Manoel Gonçalves Ribeiro. Posteriormente, em 1733, lagunistas mudam-se para o sul, com suas famílias e procuram legalizar suas terras. São tropeiros que se transformam em estancieiros.

 A partir de 1734, Cristóvão Pereira de Abreu começou abrir a Estrada Real, que partindo de Viamão, passava por Santo Antônio da Patrulha, seguia pelo vale do Rio Rolante e subia à serra encontrando-se com a estrada dos Conventos e que do vale do Rio Araranguá se dirigia para Curitiba e São Paulo.

No segundo semestre de 1737, foi instalada à margem esquerda do Rio dos Sinos, o “curral da contagem”. A guarda tinha função de registrar as pessoas e as tropas que do Rio Grande do Sul, deslocavam-se para Curitiba e também efetuar prisões de desertores. Em 1739, passou a ter função de cobrar taxas dos animais capturados no sul para serem vendidos em Sorocaba.

Os desentendimentos das Coroas Ibéricas no sul da América fizeram com que as duas monarquias firmassem em 1750, o “Tratado de Madri” estabelecendo que Portugal entregasse Sacramento à Coroa Espanha e receberia em troca os Sete Povos das Missões. Entretanto, a demarcação dos limites foi interrompida pelos índios missioneiros que se recusavam a entregar suas terras, motivando a “Guerrilha Guaranítica” (1754-1756).

Em 31 de agosto de 1760, a Portaria Episcopal institui a Capela Curada na sesmaria de Inácio José de Mendonça e Silva e Margarida Exaltação da Crus (onde hoje localizado o Paço Municipal de Santo Antônio da Patrulha). A jurisdição desta capela abrangia “desde o registro da serra de Viamão até o lugar chamado Lombas, correndo rumo pelo Arroio Grande de João Rodrigues, Fazenda de João Pinto, Capivari e Palmares e todos que estão situados nos Campos de Tramandaí”.  Posteriormente, em 26 de junho de 1762, a jurisdição da capela de Santo Antônio é ampliada atingindo os territórios de São Francisco de Paula de Cima da Serra, Vacaria e Bom Jesus, além de Tramandaí, Conceição do Arroio e Torres.

O conflito entre as Coroas de Portugal e Espanha somente teve fim em 1801 com o “Tratado de Badajós”. Consolidada a posse portuguesa na região, seria necessário criar mecanismos de organização para firmar definitivamente o domínio português no território sulino. Para isso, o Príncipe Regente, D. João, criou em 07 de outubro de 1809 quatro Municípios: Rio Grande, Rio Pardo, Porto Alegre e Santo Antônio da Patrulha.
Criado os Municípios nestes deveriam ser instalados as Câmaras de Vereadores que iriam administrar os territórios. No Município de Santo Antônio da Patrulha foi instalada a Câmara de Vereadores, em 03 de abril de 1811, que da sede deste deveria administrar 34.184 km2.

A partir de segunda metade do século XIX, a questão emancipação passa a ser uma constante no território patrulhense. Neste contexto, está a Freguesia de Vacaria que em 1850 emancipou-se de Santo Antônio. Em 1857, Vacaria retorna ao Município Patrulhense, enquanto Conceição do Arroio emancipa-se, levando consigo toda a faixa litorânea.  Em 1876, é a vez de Lagoa Vermelha emancipar-se, abrangendo a freguesia de Vacaria.  Lagoa Vermelha perde sua emancipação para Vacaria em 1878, passando a ser distrito desta. O Mesmo ocorreu com São Francisco de Paula em 1878 (1ª Emancipação), com Santa Cristina do Pinhal em 1880 e também Taquara em 1886.

Destes Municípios, outros também se emanciparam formando uma árvore genealógica de filhos, netos, bisnetos e trinetos. Mas, Santo Antônio da Patrulha, também continuou gerando novos municípios no decorrer do século XX, é o caso do Município de Rolante que após um longo processo de mais de trinta anos, emancipou-se em 1954, e do município de Caraá, o filho mais novo emancipado em 1996.

REFERÊNCIAS:
BACKES, Cônego Wunibaldo. Santo Antônio da Patrulha nas Memórias do Padre Wunibaldo – 1932-1954 – Porto Alegre: EST, 1992.
BARROSO, Vera Lúcia Maciel (Organizadora). Santo Antônio da Patrulha – Re-conhecendo sua História. Porto Alegre, EST, 2000.
_______. Presença açoriana em Santo Antônio da Patrulha e no Rio Grande do Sul. Porto alegre, EST, 1993.
LOPES, Luiz Roberto. História do Brasil Contemporâneo. 5ª edição, Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990.
NEIS. Padre Ruben. Guarda Velha de Viamão – No Rio Grande miscigenado surge Santo Antônio da Patrulha. Porto Alegre. EST. Sulina, 1975

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre; Mercado Aberto; 1980.

FOTO:
Rua da Direita (hoje Avenida Borges de Medeiros). Início do século XX. Acervo da Fundação Museu Antropológico Caldas Júnior.


domingo, 2 de novembro de 2014

HISTÓRIA E CULTURA PATRULHENSE: REGISTROS DE RECONHECIMENTO

Quando se tem em mente a cultura de uma sociedade, é preciso entender a sua história e o desenvolvimento que se teve ao longo dos anos. Mas, o tópico inicial a que chamo atenção é a palavra “cultura” e toda a sua abrangência de conceitos. Revisando algumas definições, encontrei a mais primitiva contextualização no ano de 1871, por Edward Burnett Tylor em Primitive Culture.
“Cultura é o complexo no qual estão incluídos conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade.”

Fica claro que a definição de cultura utilizada pelo autor refere-se a tudo aquilo que é coletivo à sociedade, a todas as formas de organização que, no dia-a-dia de uma população, vão definindo ações e desenvolvendo o ser humano. A forma de entendermos a cultura é buscar, na história, o desenvolvimento de uma sociedade e os fatores que influenciaram na construção da sua identidade. Veremos que a cultura de Santo Antônio da Patrulha recebeu influência de diversos acontecimentos históricos do Brasil e do Estado do Rio Grande do Sul, desde a sua colonização até o presente momento. De forma linear, vamos relatar esses acontecimentos históricos aqui e buscar os exemplos que, em Santo Antônio da Patrulha, foram definindo a cultura e a identidade de sua sociedade.
No século XVIII, com o Brasil ainda sendo uma colônia de Portugal, a ação da Coroa Portuguesa consistiu em conquistar o território além Tordesilhas e estender seus domínios até o Rio da Prata. Uma das formas de colonização utilizada pela Coroa Portuguesa foi a açoriana a partir de 1752. Além do povoamento e da ocupação da região, daria conta, ainda, do branqueamento das raças existentes (índios, negros e castelhanos). A região do litoral norte e Santo Antônio da Patrulha também foram ocupadas com os açorianos. Esses desenvolveram aqui a cana-de-açúcar, o trigo e outros produtos para economia de subsistência.
Com a Independência do Brasil (07/09/1822), o Império Brasileiro passa a ver o Rio Grande do Sul como o celeiro do País. Fomenta a imigração alemã a partir de 1824 e, a italiana a partir de 1875. Esses imigrantes chegam com o objetivo de produção e não, de colonização. Inserem-se na economia de abastecimento do centro País. No município de Santo Antônio da Patrulha foi criada, em 1888, a Colônia de Vila Nova, localizada na margem superior do rio dos Sinos, entre os rios Rolante e Caraá. O principal objetivo era o abastecimento do Município, e o excedente, para as demais regiões. A colônia de Vila Nova formou os distritos e, posteriormente, os municípios de Rolante (1955), Riozinho (1988) e Caraá (1996).
Fator de grande relevância na história do Estado do Rio Grande do Sul foi a Revolução Farroupilha (1835/1845). Após esse período, começa a organização das cidades como centros urbanos. Surge a Burguesia Gaúcha (comerciantes, industriários, profissionais liberais, etc.) que vão incluir os produtos culturais no mercado (teatros, cinemas, saraus, literatura, magazines, revistas, etc.). Em Santo Antônio da Patrulha, é criado o Grupo Dramático (1851) e os Clubes de Poetas – Grupo das Violetas (1851) e Grêmio dos Amores-Perfeitos (1875).
Com a Proclamação da República (15/11/1989), o Rio Grande do Sul fomenta a criação dos centros urbanos e coloca em choque os interesses das cidades com os interesses das elites agrárias. Em Santo Antônio da Patrulha, surgem grupos e serviços de cultura e de recreação: Jornal o Despertador (1916), Jornal Humorístico Arco-Íris (1920), Sociedade Recreativa Amor-Perfeito (1921), Esporte Clube Jaú (1927), Orquestra Lyra Martha (1931), Cassino Clube (1937), Grêmio Esportivo Liberdade (1937), Rádio Sulina (1949), Cine Teatro Luz (1953).
Na revolução de 1930, Getúlio Vargas conquista o poder. No mesmo ano, cria o Ministério da Educação e Cultura. Em 1932, cria a Cruzada Nacional de Educação e passa a dialogar, diretamente, com os Municípios. Cultura passa a ser tratada com compromisso da Nação, a ser firmada por meio da educação. Em 1937, Vargas implanta o Estado Novo. A ditadura limita as diversidades culturais dos estados e implanta a cultura da identidade nacional, arregimentada pelo civismo e pelo patriotismo. Em 30 de novembro de 1937, implanta a proteção ao patrimônio histórico e artístico, através do Decreto-Lei nº. 25. Municípios do Brasil organizam-se em torno da educação e destacam-se pela criação de escolas e comemorações da Semana da Pátria. A Igreja Católica deixa de promover festas folclóricas e passa a arrecadar fundos para investir em infraestrutura, criando capelas e salões no interior dos municípios.
Com o fim do Estado Novo de Getúlio Vargas (1947), retomam-se as manifestações locais. No Rio Grande do Sul, surge o Movimento Tradicionalista Gaúcho em busca dos valores campeiros. Em 24 de abril de 1948, é criado, em Porto Alegre, o CTG 35. Em Santo Antônio da Patrulha, é criado o CTC Cel. Chico Borges em 20 de maio de 1958.
A partir de 1964, a Ditadura Militar restringe as manifestações culturais, principalmente, os órgãos de imprensa e as opiniões políticas. Santo Antônio da Patrulha é atingido pelo êxodo rural. Jovens deixam o Município e migram, em busca de empregos, para os arrabaldes dos grandes centros industriais (Bairro Sarandi, em Porto Alegre; Bairro Canudos, em Novo Hamburgo; Bairro Matias Velho, em Canoas e Parque dos Anjos e Morada do Vale, em Gravataí e, também, regiões dos municípios de Cachoeirinha e Alvorada). Muitos desses jovens eram descendentes de agricultores da antiga Colônia de Vila Nova.
Na década de 1960, o turismo e a cultura começam a despertar no Município. Fato que merece registro é a criação do primeiro setor público destinado para um seguimento cultural, a Biblioteca Pública Municipal (criada em 04.08.1958 e instalada em 30.09.1966). O Município passa a ser divulgado como “a Terra dos Canaviais” em folders turísticos. Destaque dessa época foi à realização da Festa Rainha dos Estudantes do Vale dos Sinos e Festa da Cana (30.09.1967). Na organização dos jovens, a criação da Boate Manifesto foi o sucesso do momento.
Nos anos 70, a administração Pública Municipal preocupou-se com a criação de um Museu para guardar a memória da população. Em 30 de dezembro de 1974, foi criada a Fundação Museu Antropológico Caldas Júnior, homenagem ao fundador do Correio do Povo que residiu em Santo Antônio da Patrulha quando era criança. Em 14 de outubro de 1982, foi aberto à comunidade. Também, o turismo passa a ser trabalhado com folder turístico, enfocando os usos, os costumes, as tradições, a cultura e a economia. No universo educacional, a realização da EXFEPA – Exposição Feira Patrulhense, em 1974 e, também, o concurso para a Criação da Bandeira e do Hino de Santo Antônio da Patrulha. Nas ondas da literatura e da história, a publicação da pesquisa do Padre Ruben Neis “Guarda Velha de Viamão – no Rio Grande Miscigenado surge Santo Antônio da Patrulha” EST/Sulinas, 1975. A partir da publicação desse livro, a história da formação do município ficou conhecida e ao acesso de todos.
Para que se tenha uma ideia mais precisa de Santo Antônio da Patrulha, na década de 1970, reproduzimos aqui o depoimento coletado em relatório do Clube de Jovens da UESCO, com o título de “Santo Antônio da Patrulha – Um Município em Conflito”.
“(...) É uma cidade pacata demais para o seu tamanho, transmitindo a seus habitantes uma natural passividade. As horas de lazer dos patrulhenses são subestimadas. Gastam seu tempo livre com passatempos de pouco valor recreativo como “bate papos” em casa de amigos, bares ou nos clubes onde grande parcela aproveita para jogar cartas (...)”.

Com a reorganização administrativa do setor público, a cultura passa a aparecer, oficialmente, como setor criado dentro da Prefeitura Municipal.  Ligada à pasta da educação e paralela ao setor esportivo, a politica cultural assume carácter de compromisso público do Município.
Lei n• 1.393/77 de 10 de agosto de 1977, organização administrativa da Prefeitura Municipal de Santo Antônio da Patrulha (,) Secção 3 - Secretaria Municipal de Educação e Cultura (...).
Art. 54 – a Secretaria de Educação e Cultura é o órgão responsável pelas atividades relativas à educação e cultura do Município; à instalação e manutenção de estabelecimentos municipais de ensino; à manutenção da Biblioteca Pública Municipal; à elaboração de execução de programas desportivos e recreativos para maior desenvolvimento do esporte nas suas diversas modalidades; à manutenção de cursos de caráter profissional e semi profissional e à difusão cultural em geral.
Art. 55 – A Secretaria de Educação e Cultura compõe-se das seguintes unidades:
I – Serviços de Ensino;
II – Serviços de Promoções Culturais e Esportivas;
III – Serviço de Merenda Escolar;
IV – Biblioteca Pública Municipal.

No início da década de 1980, buscou-se valorizar os produtos típicos de Santo Antônio da Patrulha (cachaça, sonho, rapadura e melado) como produtos turísticos e, também, a arte e o artesanato local, ponto alto para a firmação dos valores folclóricos, como as Cavalhadas, os Ternos de Reis e o Baile de Masquê. Nesse período, a sociedade insere-se na organização de eventos públicos, focados na cultura, mas com amplitudes para o turismo. Exemplos: 1º Festival do Sonho (1983) e 1ª Moenda da Canção Nativa (1987). Houve preocupação, ainda, em divulgar o produto turístico na comunidade local, com a reprodução dos pontos turísticos e das manifestações folclóricas nas capas dos carnês IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Publicação histórica para o Município foi o livro “Reminiscência de Minha Terra – Santo Antônio da Patrulha”, de José Maciel Júnior (Juca Maciel) EST, 1989, que, desde a década de 1950, dedicava-se a publicar, na imprensa local e regional, os registros de suas pesquisas históricas.
Com a cultura destacada, sentiu-se a necessidade de oferecer à população alternativas de lazer e atividades que ocupassem, principalmente, a juventude. Para isso, a iniciativa privada desenvolve um importante papel com a criação de bares e danceterias. Em alta no Estado do Rio Grande do Sul e, especialmente, no gosto popular, estavam os conjuntos musicais os Atuais, Champion, Miramar Show, Flor da Serra, Os Lucianos, Os Bertussi, etc.. Muitas noites de sábado foram animadas ao som dessas e de outra bandas. Como exemplos, citamos o Salão Cartucho, Salão Carvalho, Salão Sabiá e Clube Independência. Para incrementar esses bailes, realizavam shows com cantores nacionais. Entre os que por aqui passaram, podemos citar: Ovelha, Perla, Giliard e Warderleia.
A partir dos anos 90, a busca dos valores históricos foi o destaque nas promoções dos eventos e projetos desenvolvidos no Município. Buscou-se o reconhecimento da identidade luso-açoriana na cultura, por meio da arquitetura, da gastronomia, das artes, do artesanato e do folclore. Criação, também, de novos setores. Na esfera pública, a Sala Açoriana e, na esfera privada, a organização das instituições APAAR (Associação Patrulhense de Artistas e Artesãos) e Grêmio Literário Patrulhense. A atuação desses setores resultou em ações que, até hoje, são destaques no cenário cultural de Santo Antônio da Patrulha. Exemplos: Arte na Praça, Poesia na Praça, Antologia dos Poetas Patrulhenses, 1º Raízes – Encontro dos Municípios Originários de Santo Antônio da Patrulha, abertura da Moenda da Canção, de festival de música nativista, para festival de música e Festa da Cachaça, do Sonho e da Rapadura. O reconhecimento do trabalho na área da cultura foi tão grande, na década de 1990, que levou a administração pública municipal a criar uma secretaria específica para a cultura, ligando-a a outros setores de turismo e esportes (Lei Municipal nº 265793, de 14 de julho de 1993).

Ao iniciar o século XXI, a cultura de Santo Antônio da Patrulha já possuía uma grande dimensão de ações e promoções que a fora definido e construindo ao longo de todos esses anos. Reconhecível que recebemos influências de índios, luso-açorianos, africanos e espanhóis durante o período de formação e ocupação do Rio Grande do Sul (século XVII), e de alemães, italianos, poloneses, austríacos, húngaros e japoneses no período de construção e firmação do país (Séculos XIX e XX). As influências dessas etnias são facilmente percebíveis na música, no teatro, na dança, no folclore, na história, na memória, no patrimônio histórico, na literatura, nas artes / artesanato, no tradicionalismo e em tudo que, genuinamente, forma a alma do cidadão patrulhense.

domingo, 31 de agosto de 2014

ANÁLISE FOTOGRÁFICA

A fotografia é sem dúvida um saboroso elemento na pesquisa histórica. Quando estamos pesquisando determinado tema é tão comum perguntarmos para nós mesmos: Será que temos imagem que retrata essa situação? No campo da imagem, a fotografia é a que mais nos instiga os olhos. Acredito ser em função da magia de saber que houve um preparo para que aquela imagem acontecesse enquanto memória e enquanto elemento físico. Ao contrário da pintura que em imagem representa as concepções de arte, as técnicas e enfim a formação do pintor, a fotografia é elemento estático, uma parada de imagem. Apesar de que a fotografia também representa o olhar do fotógrafo. Entretanto, para que a fotografia transforma-se em uma imagem no papel, a cena representada tem que realmente ter acontecido. O que não acontece muitas vezes com a pintura, pois essa pode ser simplesmente a interpretação do artista.
Mas é mister entender como se desenvolveu o processo da fotografia para que possamos saber analisar uma imagem.  A fotografia surgiu na França como uma nova profissão quando está ainda vivia um período de instabilidade política em consequência da Revolução Francesa e do Império Napoleônico, em meados do século XIX.  Para precisar em 1826, com o inventor e fotógrafo francês Joseph Nicéphore Niépe. Mais tarde em 1888, com George Eastman, surge a Kodak e a fotografia torna-se popular com um tipo de câmera bem mais leve e de baixo custo para operar.
A denominação “fotografia” foi definida pelo francês Antine Hercules Romuald Florence (1804-1879) por usar uma nova técnica de impressão desenvolvida a partir de uma ação química da natureza (efeito da luz do sol sobre substâncias fotossensíveis). Florence chegou a viver e trabalhar no Brasil. Mas ao Império Brasileiro não interessava pesquisas cientificas no século XIX e sim a sua atuação e consolidação política. Daí o pouco apoio que Florence teve no Brasil.
Contextualização a parte é necessário entender o que uma fotografia pode nos revelar, além da simples imagem que reproduz. Muito além das informações que a foto nos oferece, tais como dia, lugar e motivo, esta a ação e a atividade do signo. Quem propõe a análise são as categorias semióticas peirceanas desenvolvidas por Charles Sanders Peirce. Para ele interessa saber como os signos podem atingir mentes potencialmente interpretadoras. Isso é possível de ser entendido através da estrutura do signo. O que a imagem representa? Que elementos ela trabalha? Por que motivo se teve interesse em fotografar essa cena?
Feito essas considerações, vamos à análise da imagem selecionada. Separei aqui uma fotografia da década de 1920 no Município de Santo Antônio da Patrulha. O original dessa imagem compõe o acervo iconográfico da Fundação Museu Antropológico Caldas Júnior e revela a seguinte informação “Inauguração da Usina de Luz Elétrica – 1919”. Porém mais importante de quem está na foto é o que a foto revela e pra isso, vamos ver o que é possível apurar utilizando a técnica de leitura de signo, proposta Peirce.
A imagem revela padrões de comportamento. Homens são maiorias e todos usam chapéus. Mostra o grande acontecimento que atingiu toda a sociedade com a inauguração de uma importante obra que geraria luz elétrica para a comunidade. O acontecimento foi tão festivo, que mesmo em um dia muito frio (isso está representado na imagem apesar da qualidade) não faltou até mesmo uma banda de música para saudar as autoridades e a população. É uma foto que mostra a importância da obra não só para a comunidade, como também a importância enquanto acontecimento político para o Intendente da época Cel. Paulo Maciel de Moraes. A fotografia original está colada em um papel cartaz em medidas que ultrapassa o padrão comum de fotografias a época em Santo Antônio da Patrulha. Nota-se que a intenção foi pendurá-la na parede como se fosse um quadro, o que nos revela a importância do acontecimento e a necessidade de lembrá-lo constantemente. Sem dúvida uma propaganda política do Intendente e de sua atuação no PRR (Partido republicano Rio-grandense).


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

IMIGRAÇÃO ALEMÃ: ESTUDO DE CASOS EM TEMPOS E ESPAÇOS DISTINTOS

1824: ano que marca o início da vinda dos imigrantes alemães para o Rio Grande do Sul. Abordar esse tema é sobre tudo entender as necessidades da colonização no território sulino e a situação em que se encontrava a Europa nos diferentes momentos da imigração alemã. Não podemos generalizar e entender a imigração iniciada no século XIX com os mesmos objetivos da que se estendeu até os anos 20 de século XX. É preciso ir além, e estudar a Europa nos períodos em que se pretende analisar.
Ao tratar o século XIX na Europa é preciso considerar que não havia uma nação alemã e nem um estado alemão com fronteiras e limites de dimensões políticas. Nesse aspecto entendia-se por “alemão” o individuo oriundo de uma raça e não de um país. O que os identificava era a divisão cultural e não a divisão política. O processo de formação do estado alemão se desenvolveu durante o século XIX com avanços e recuos, inclusive com “distinto posicionamentos das duas igrejas – a católica e a protestante”. (PICCOLO, In: CUNHA, 2004, 99).
A vinda de estrangeiros para o Brasil representava o processo de expansão do capitalismo a nível mundial. Nos países europeus o capitalismo gerou a acumulação de capital, a expulsão do camponês da terra e a desarticulação do trabalho artesanal, ocasionando assim um excedente populacional sem trabalho e sem terra. Para ilustrar a situação em que viviam os alemães, tomaremos como exemplo os motivos em que foram alegados por Peter Lauck em seu requerimento de emigração no ano de 1879, publicado no livro 1000 Jahre Hasborn – Dautweiler, traduzido por Jorge Luiz Lauck:
Eu e o filho mais velho trabalhamos nas minas, o pai é alcoólatra, a mãe e os irmão mais novos cultivam a terra que nada mais dá, falta perspectivas de melhoras, tenho vontade de juntar-me a outros familiares que já emigraram para o Brasil. (LAUCK, In: BENFICA, 2000, 259).
Devemos analisar também o ponto de vista da pátria que recebe esses imigrantes, no caso o Brasil do século XIX e em particular o Rio Grande do Sul. No Brasil é o momento que se inicia a preparação da transição da mão de obra escrava para a mão de obra assalariada. A Inglaterra desde os tratados de 1810 pressionava o Brasil para acabar com a mão de obra escrava e ingressar de vez no mundo capitalista. No que tange o Rio Grande do Sul havia a necessidade de impulsionar a economia local e firmar a província como o “celeiro do país”. A visão do Império sobre a província sulina gerava preocupação pela sua militarização. Ao enviar imigrantes alemães para a região sul do Brasil o Império estaria também neutralizando as oligarquias regionais.
A região do hoje Município de São Leopoldo foi a primeira a receber imigrantes alemães em 25 de julho de 1824, instalados na Real Feitoria do Linho Cânhamo, uma antiga fazenda de propriedade do Império do Brasil. Mas o projeto colonizador espalhou imigrantes alemães por todo do vale do rio dos sinos, planalto e até mesmo Litoral Norte. Estabelecidos em lotes que em 1824 eram de 77 hectares e em 1848 passou a ser de 48 hectares os imigrantes alemães abriram picadas na mata e viveram inicialmente da economia de subsistência, cultivando vários produtos. Com a venda do excedente essa economia colonial imigrante gerou uma atividade lucrativa para o abastecimento do mercado interno: o comerciante. Sendo São Leopoldo a colônia mãe que concentrava o comércio e possuía ligação direta com a capital Porto Alegre, via rio dos Sinos e rio Jacuí, o seu desenvolvimento passou a acumular riquezas aos comerciantes. Era a afirmação do capitalismo no Rio Grande do Sul desenvolvida pelos imigrantes alemães. Vejamos o que afirma Sandra Jatahy Pesavento:
O comerciante alemão foi o elemento que se destacou no mundo colonial. Lucrava sobre a produção agrícola mediante a diferença obtida pelos produtos na colônia e em Porto Alegre; lucrava com o transporte das mercadorias da colônia à capital e da capital para colônia; lucrava ainda com as operações financeiras de empréstimo e a guarda de dinheiro, o que lhe oportunizava um capital de giro para investir (PESAVENTO, 1980, 37).
Após analisar as origens e os motivos da imigração alemã no Rio Grande do Sul no século XIX e contextualiza-la no cenário nacional e internacional é preciso estabelecer recortes no que tange as colônias e seus diferentes tempos e espaço. O estudo aqui proposto estabelecerá dois recortes dentro do vasto universo de pesquisa que é a imigração alemã. O primeiro recorte terá como baliza temporal o ano de 1829, por tanto dentro do contexto da imigração no século XIX, com a criação das colônias de Três Forquilhas e São Pedro no distrito de Torres, então Município de Santo Antônio da Patrulha. O segundo recorte abordará um dos últimos grupos de imigrantes alemães que nos anos 20 do século XX estabeleceram-se em Rolante, também a época distrito de Santo Antônio da Patrulha. O principal objetivo é mostrar as diferenças de contexto histórico entre esses dois espaços de tempo e interpretar a imigração alemã como um processo que atravessou o I e o II Reinado do Império e continuou após a proclamação da república. Sobre tudo não foi somente o governo, imperial e republicano que fomentou a imigração, também as igrejas católicas e protestantes fizeram parte desse processo. Vamos aos casos proposto para análise:
O primeiro recorte proposto direciona o olhar para as colônias de Três Forquilhas e São Pedro criadas em 1826 no extremo norte da região litorânea do Rio Grande do Sul. Embora os dois núcleos fossem considerados como uma única colônia a divisão foi realizada por credo religioso. Dessa forma, os protestantes foram encaminhados para Três Forquilhas e os católicos para São Pedro. Não é objeto desse estudo interpretar os motivos que levaram a essa divisão. Documentos da época apontam que a divisão foi necessária em razão do grande número de famílias e das fortes chuvas, o que seria impossível assentar tantas famílias nas terras destinadas com as cheias dos rios. Mas o assunto merece análise específica e está a carecer maiores estudos. O objeto dessa análise visa estabelecer os motivos quanto a localização desses dois núcleos coloniais.
Do ponto de vista econômico, Três Forquilhas e São Pedro constituíram-se desvinculadas das demais regiões coloniais, identificadas pela distante localização e pela densidade das florestas que ocasionavam a impossibilidade do elemento produtivo. Enquanto a região do vale do rio do Sinos e demais regiões foram beneficiadas pelo elemento geográfico para escoar sua produção, os imigrantes da região do litoral viram-se obrigados a atender apenas as necessidades da própria colônia. Ao pesquisar a imigração alemã Jean Roche considerou a região como a “mais pobre das áreas teuto-brasileiras” (ROCHE, 1969). Também a historiadora Nilza Huyer Ely afirma que os alemães do vale do Rio Três Forquilhas “foram jogados a mercê de sua própria sorte, numa das regiões mais ricas e mais belas do estado, como se por si só bastassem para o desenvolvimento da colônia” (ELY, In: Ely, 1996).
As respostas a esse isolamento das colônias alemãs do Litoral Norte encontramos na Portaria Imperial de 01 de julho de 1825 a qual determinava que:
Os colonos alemães que mais houverem, sejam acomodados ao longo da estrada nova que se acha por se fazer praticável, entre o presídio das Torres e os habitantes de cima da serra preferindo-se porém , sempre a ponte que mais se avizinhar a Província de São Paulo ( IOTTI, 2001, 86) (Grifo nosso)
Fica clara a preocupação do Império Brasileiro as fronteiras de uma região em que o Brasil herdou de Portugal após anos de conflito com a Espanha. Percebe-se também que a imigração alemã tomou proporções descontroladas, uma vez que essa determinação enviava imigrantes para uma região ao “longo de uma estrada que se acha por fazer praticável”. Não havia uma estrutura para receber os imigrantes alemães. Os que foram enviados para a Real Feitoria, hoje São Leopoldo, ocuparam em dois anos a região, os que foram enviados para a região litorânea tinham uma dupla missão: desenvolver economicamente uma região abandonada pelo império e pela província e defender a fronteira de entrada para o centro do Brasil.
Passamos agora ao segundo objeto de estudo, deslocando nosso olhar da região de Torres para o Município de Rolante e do século XIX para o século XX, no período de 1924 a 1927.
Rolante, hoje Município, emancipou-se de Santo Antônio da Patrulha em 1955. No final do século XIX passou a receber descendentes de imigrantes alemães vindos das antigas colônias em busca de novas terras. A partir de 1888 foi criada a Colônia de Villa Nova abrangendo toda a região do Rio dos Sinos, entre a foz do Rio Rolante e a do Rio Caraá, no território do Município de Santo Antônio da Patrulha. Entretanto, Villa Nova não era apenas uma colônia de imigrantes alemães, mas sim uma colônia mista para onde foram destinados imigrantes italianos, austríacos, poloneses, russos e alemães. Embora sendo uma colônia de diferentes raças, havia uma divisão em seções e em linhas, sendo que os alemães foram encaminhados para as seções Quilombo, Baixa Grande, Canta Galo, Bocó e Fraga:
Assim, a região foi colonizada também por alemães que fizeram parte na construção do distrito. As religiões, católica e protestante, logo se fizeram presentes, ambas com forte atuação. Com relação a religião católica, a Cúria Metropolitana de Porto Alegre, firmou convenio em 1922 com os Missionários da Sagrada Família. Nesse mesmo ano criou a Paróquia Nossa Senhora da Conceição em Rolante, enviando para lá os missionários da Sagrada Família, entre eles o Padre Jorge Anneken.
O Padre Anneken se preocupou com o avanço do protestantismo entre os imigrantes e descendentes de imigrantes alemães e começou a intermediar a vinda de novos imigrantes alemães que fossem, sobre tudo, católicos. O que realmente aconteceu no período de 1924 a 1927, onde 30 famílias num total de 251 pessoas vieram da Alemanha para se estabelecerem em Rolante. Não era uma imigração fomentada pelo estado e sim pela igreja católica e pelo próprio Padre Anneken.
No contexto internacional a Alemanha encontrava-se no período após a primeira guerra mundial, onde ficou destruída e com extremas dificuldades de inserir novamente seus filhos na economia nacional. No plano regional o que estava em voga era a firmação da igreja católica enquanto instituição que pretendia atuar em uma região de colonização alemã onde o protestantismo era o credo religioso com maior número de adeptos.
A região de origem dessas 30 famílias imigradas nos anos 20 do século XX era a região de Oldenburg, mesma região em que nasceu o Padre Anneken. Foi nos seus compatriotas que o sacerdote buscou a alternativa para marcar a sua atuação e via de regra o do próprio catolicismo. Essa situação fez o Padre e os imigrantes possuírem e estabeleceram uma dúbia relação de pátrias, a de origem = Oldenburg na Alemanha e a de estabelecimento = Rio Grande do Sul, no Brasil. A relação com a pátria mãe em meio à pátria que os recebeu foi tão forte que esses alemães ficaram conhecidos como os “Oldenburguenses”. Vejamos o que nos dizem estudos anteriores sobre a situação da Alemanha nesse período:
Oldenburg era a sede de um ducado, que se tornou estado com a República de Weinar, situado no norte de Alemanha. A região também foi duramente atingida pela primeira Guerra Mundial fazendo com que diversas famílias emigrassem para os Estados Unidos e para o sul do Brasil (LAUCK, In: Ely, 2003, 116).
Os dois estudos aqui propostos, embora tenham caráter ilustrativo, inserem-se dentro do amplo universo de pesquisas que é a “Imigração alemã” no Rio Grande do Sul, embora com origens, motivos, contextos e períodos divergentes na sua totalidade. Mesmo assim buscou-se traçar paralelos entre um grupo do início e um grupo do final de imigração. Não só o estado buscou na imigração a alternativa para a construção de uma economia colonial que o fomentasse, mas também a igreja, neste estudo a católica, viu nos imigrantes alemães o recurso para impor a sua catequização. Um século depois da chegado dos primeiros imigrantes alemães no Rio Grande do Sul, o projeto colonizador ainda deslocava contingente oferecendo “esperanças” na nova terra. Contudo, períodos diferentes e interesses econômicos e religiosos a parte, em plano geral o que fez todos imigrantes iguais entre si foi a sua própria cultura. Hoje a herança cultural dos alemães é uma constante no Rio Grande do Sul. Souberam eles, atender as necessidades que lhes foram delegadas e ainda impor a sua cultura de origem na formação do caleidoscópio cultural do Rio Grande do Sul.


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CUNHA, Jorge Luiz. Os alemães no sul do Brasil. In: CUNHA, Jorge Luiz (org). Cultura Alemã – 180 anos = Deustsche seit 180 jahre. Edição Bilíngüe. Porto Alegre: Nova Prova, 2004. Páginas 15 a 27.
ENGEL, Johann. 1000 Jahre Hasborn – Dautweiler. In Auftrag der Gemeinde Hasborn – Dautweiler, 1964.
ELY, Nilza Huyer e BARROSO, Vera Lúcia (orgs.). Imigração alemã, 170 anos, vale do Três Forquilhas. Porto Alegre: EST, 1996.
IOTTI, Luíza Horn (org.). Imigração e colonização: legislação de 1747 a 1915. Porto Alegre: Assembleia Legislativa do Estado do RS. - Caxias do Sul: EDUCS, 2001
LAUCK, Fernando Rocha. Família Lauck: Da Alemanha para o Rio Grande do Sul. In: BENFICA, Corália Ramos (org.). Santo Antônio da Patrulha Re-conhecendo sua história. Porto Alegre: EST, 2000. Páginas 258 a 264.
LAUCK, Fernando Rocha. Rolante: núcleo de colonização alemã, distrito de Santo Antônio da Patrulha. In: Ely, Nilza Huyer (org.). Torres – marcas do tempo: II simpósio sobre imigração alemã no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST, 2003. Páginas 112 a 122.
MÜLLER, Telmo Lauro (org.). 175 anos de imigração alemã. Porto Alegre: EST, 2001.
 PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1980.
PICCOLO, Helga Iracena Landgraf. Imigração alemã no Rio Grande do Sul: considerações historiográficas. In: CUNHA, Jorge Luiz (org). Cultura alemã – 180 anos = Deustsche seit 180 jahre. Edição Bilíngüe. Porto Alegre: Nova Prova, 2004. Páginas 99 a 150.
RIGO, Kate Fabiani e ARAUJO, Tiago Nicolau. Imigração alemã em Rolante. In: BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de santo Antônio da Patrulha e Caraá. Porto Alegre: EST, 2000. Pags. 202 e 203
ROCHE, Jean. A colonização alemã no Rio Grande do Sul. Coleção Província, volumes I e II. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1969

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

IMAGEM HISTÓRICA - CIDADE BAIXA - PORTO ALEGRE - RS.

Quem me conhece sabe o quanto gosto de trabalhar com imagens. Tendo em vista que sou formado em história, a união dessas duas searas (imagens e história) me parece um casamento perfeito para se trabalhar a pesquisa historiográfica. As imagens trazem consigo um carácter extremamente saudosista e por tanto formam um largo campo de interesse em suas leituras. Não abro mão de uma boa retórica textual, mas incrementar a escrita com uma fotografia é, sobretudo ilustrar a produção histórica.  Para usar uma expressão bem comum, em uma pesquisa a fotografia deve ser usada como “a cereja no bolo”.
No entanto, percebo que essa tendência invadiu as redes sociais trazendo para o formato digital as caixas e os baús de famílias que há muito tempo estavam mofando no fundo das gavetas e dos armários. Entendo que devemos comemorar esse avanço digital e histórico da fotografia. Sem falar em acessibilidade, pois uma mesma imagem pode ser visualizada em qualquer lugar do mundo e por quem desejar.

Revisando os meus alfarrábios, encontrei essa imagem inédita da nossa capital, Porto Alegre. Acredito ser inédita, pois ainda não visualizei algo parecido nos grupos que acompanho pelas redes sociais. Apesar de não saber a localização exata, pelas informações existentes junto ao cartão postal podemos apurar o seguinte: “Porto Alegre – Cidade Baixa – II parte”. Imagino que a partir de agora, essa imagem vai ser reproduzida inúmeras vezes e visualizada por muitas pessoas. Não vejo mal algum nisso. Que futuro teria essa imagem guardada no fundo de uma gaveta junto a muitos outros papeis e documentos de família? Enfim, vamos compartilhar e tentar fazer a identificação dessa rua, desse bairro e a época em que está retratada. Sobre a época em especial, ouso dizer que acredito ser início do século XX. Por fim encerro dizendo que considero um charme essas construções junto à calçada. Uma característica “bem portuguesa com certeza”.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

RAIZ PATRULHENSE DE TEIXEIRINHA.

È impossível estudar a trajetória da música no Rio Grande do Sul, sem lembrar de Vitor Mateus Teixeira, popularmente conhecido como TEIXEIRINHA. Um fenômeno popular que vivenciou 27 anos de carreira com mais de 700 canções gravadas.
Teixeirinha é reconhecido como o maior vendedor de discos do Rio Grande do Sul e o primeiro artista brasileiro a vender um milhão de cópias. Sobre tudo fez, protagonizou e escreveu doze filmes.
Quem não se lembra de música “Coração de Luto” que projetou o artista em 1961? Como não lembrar o filme de mesmo nome, sucesso de bilheteria, escrito e encenado por Teixeirinha em 1966?
Estes questionamentos e o sucesso que muitos acompanharam chamam a atenção para outra pergunta: Qual a relação de Teixeirinha com Santo Antônio da Patrulha? Pois é este o Município do nascimento de Vitor Mateus Teixeira. Em 1927 na localidade de Mascarada que integrava o Distrito de Rolante, Município de Santo Antônio da Patrulha (Este Distrito emancipou-se de santo Antônio da Patrulha, em 1954, tornando-se o Município de Rolante).
Filho de Saturnino e Ledorina Teixeira, Teixeirinha teve uma infância difícil. Seu pai era casado pela segunda vez e possuía filhos da primeira união. Estes não aceitavam a nova família do pai e os pressionavam com ameaças e agressões.
Com cinco anos de idade o menino Vitor ganha de seu pai um violão, estimulando-o a fazer versos e canções. Este instrumento foi quebrado por um de seus irmãos, o que deixou seu pai muito agitado vindo a falecer de ataque cardíaco no mesmo dia. Dona Ledorina e o filho foram expulsos da propriedade em que residiam, indo morar de favor em localidade próxima.
Em visita a localidade de Catanduva Grande (hoje 3º Distrito de Santo Antônio da Patrulha) alguns moradores informaram que Ledorina Mateus Teixeira e seu filho Vitor lá residiram até o seu falecimento em 1936. Dona Ledorina era epilética e teve uma convulsão no momento em que incinerava uma fogueira. Sofreu graves queimaduras e faleceu no dia seguinte.
Órfão aos nove anos de idade, Vitor foi morar em Porto Alegre vivendo como menor abandonado. Foi engraxate, verdureiro, baleiro e estafeta de hotel. Em 1941 registrou seu nascimento em cartório de Porto Alegre. Em 1944 passou a trabalhar em uma granja da periferia e conseguiu comprar um violão.
Aos 22 anos empregou-se como operador de maquinas no DAER e passou a apresentar-se na rádio Progresso, em Novo Hamburgo. No período de 1950 a 1957 atuou em vários programas das rádios Taquara, Independente de Lajeado, Rio Pardo, Alto Taquari e Santa Cruz. No início da década de 1960 a música “Coração de Luto” explode nas rádios. Com uma letra baseada em fatos verídicos, a música mostrou o sentimentalismo frente à morte da mãe, único esteio familiar de um menino de nove anos. Mas teria sido o interior do Município de Santo Antônio da Patrulha o cenário deste episódio trágico? Muito ainda há para ser resgatado no cerne desta questão, mas posso afirmar que a Srª Ledorina Mateus Teixeira foi sepultada no cemitério velho de Catanduva Grande. Atualmente existe somente a sepultura, os restos mortais foram levados pela família. 
Enfim, a vida e a obra de Teixeirinha, sucesso interrompido com sua morte em 05 de dezembro de 1985 nos deixou um legado de 69 Lps, 700 canções e 12 filmes. Mas sua obra continuou gerando frutos. Vários artistas regravaram suas canções e seu nome é lembrado em ruas de Porto Alegre e num Balneário de Novo Hamburgo. Contudo, podemos afirmar que Teixeirinha é um PATRULHENSE.
Na foto anexa, Teixeirinha aparece ao lado de Mery Terezinha, parceira musical com quem foi casado em segunda união. Essa foto foi gentilmente ofertada pela Senhora Gradir Conceição, tia da amiga Rosalva Rocha. No verso está escrito: “Teixeirinha e Mery Terezinha, apresentação em Porto Alegre, por volta de 1965”.

BIBLIOGRAFIA:
MANN, Henrique: CEEE/Som do Sul (fascículo nº 05 – Gildo de Freitas e Teixeirinha) Porto Alegre, Editora Alcance, 2002.