sábado, 22 de novembro de 2014

FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA

Vinculado à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas (1494), o território do Rio Grande do Sul, foi cenário de lutas constantes entre portugueses e espanhóis, desde a fundação da Colônia do Sacramento (1680), localizada à margem do Rio da Prata (hoje território do Uruguai). O intento português era desviar a prata extraída pelos espanhóis e transportada para Espanha através de Buenos Aires. Seria vital aos portugueses manter uma linha de ligação, ocupando o território espanhol de Laguna (final da linha de Tordesilhas) até Sacramento. Com isso, a Coroa Portuguesa estaria estendendo seus domínios até o Rio da Prata e desenvolvendo uma nova atividade no processo de exploração: a preia do gado xucro. Neste período, a carne não era considerada um bem econômico, pois se consumia somente o necessário para subsistência da ocasião, deixando-se apodrecer o restante. O que interessava era a comercialização do couro. Esta atividade movimentou a região e atraiu o interesse pela pecuária sulina.

Para frear essa ação portuguesa, a coroa espanhola fundou os Sete Povos das Missões, a partir de 1682, onde a presença jesuítica deveria defender a posse da região e conservar o gado xucro estabelecido na “Vacaria Del Mar”. Tal ação jesuítica consistiu em separar parte do rebanho para a região nordeste e formar uma nova reserva, a “Vacaria dos Pinhais”.

No inicio do século XVIII, o eixo econômico da colônia Brasil, desloca-se do nordeste açucareiro para região central. Frente a isso, o ouro, o principal produto colonial necessitaria de transporte interno da região das minas até o litoral. Para efetuar o abastecimento dos mineradores e transportar o ouro, paulistas e lagunistas deslocaram-se para o território do Rio Grande do Sul, objetivando capturar o gado xucro, em especial o gado muar.  Com isso, estancieiros começaram a estabelecer-se na região para invernar o gado. Surgiu assim uma nova atividade no contexto sulino: os tropeiros, responsáveis pelo transporte do gado.

Em 1732 é feita a doação da primeira sesmaria: “Estância das Conchas”, nas imediações de Tramandaí, para Manoel Gonçalves Ribeiro. Posteriormente, em 1733, lagunistas mudam-se para o sul, com suas famílias e procuram legalizar suas terras. São tropeiros que se transformam em estancieiros.

 A partir de 1734, Cristóvão Pereira de Abreu começou abrir a Estrada Real, que partindo de Viamão, passava por Santo Antônio da Patrulha, seguia pelo vale do Rio Rolante e subia à serra encontrando-se com a estrada dos Conventos e que do vale do Rio Araranguá se dirigia para Curitiba e São Paulo.

No segundo semestre de 1737, foi instalada à margem esquerda do Rio dos Sinos, o “curral da contagem”. A guarda tinha função de registrar as pessoas e as tropas que do Rio Grande do Sul, deslocavam-se para Curitiba e também efetuar prisões de desertores. Em 1739, passou a ter função de cobrar taxas dos animais capturados no sul para serem vendidos em Sorocaba.

Os desentendimentos das Coroas Ibéricas no sul da América fizeram com que as duas monarquias firmassem em 1750, o “Tratado de Madri” estabelecendo que Portugal entregasse Sacramento à Coroa Espanha e receberia em troca os Sete Povos das Missões. Entretanto, a demarcação dos limites foi interrompida pelos índios missioneiros que se recusavam a entregar suas terras, motivando a “Guerrilha Guaranítica” (1754-1756).

Em 31 de agosto de 1760, a Portaria Episcopal institui a Capela Curada na sesmaria de Inácio José de Mendonça e Silva e Margarida Exaltação da Crus (onde hoje localizado o Paço Municipal de Santo Antônio da Patrulha). A jurisdição desta capela abrangia “desde o registro da serra de Viamão até o lugar chamado Lombas, correndo rumo pelo Arroio Grande de João Rodrigues, Fazenda de João Pinto, Capivari e Palmares e todos que estão situados nos Campos de Tramandaí”.  Posteriormente, em 26 de junho de 1762, a jurisdição da capela de Santo Antônio é ampliada atingindo os territórios de São Francisco de Paula de Cima da Serra, Vacaria e Bom Jesus, além de Tramandaí, Conceição do Arroio e Torres.

O conflito entre as Coroas de Portugal e Espanha somente teve fim em 1801 com o “Tratado de Badajós”. Consolidada a posse portuguesa na região, seria necessário criar mecanismos de organização para firmar definitivamente o domínio português no território sulino. Para isso, o Príncipe Regente, D. João, criou em 07 de outubro de 1809 quatro Municípios: Rio Grande, Rio Pardo, Porto Alegre e Santo Antônio da Patrulha.
Criado os Municípios nestes deveriam ser instalados as Câmaras de Vereadores que iriam administrar os territórios. No Município de Santo Antônio da Patrulha foi instalada a Câmara de Vereadores, em 03 de abril de 1811, que da sede deste deveria administrar 34.184 km2.

A partir de segunda metade do século XIX, a questão emancipação passa a ser uma constante no território patrulhense. Neste contexto, está a Freguesia de Vacaria que em 1850 emancipou-se de Santo Antônio. Em 1857, Vacaria retorna ao Município Patrulhense, enquanto Conceição do Arroio emancipa-se, levando consigo toda a faixa litorânea.  Em 1876, é a vez de Lagoa Vermelha emancipar-se, abrangendo a freguesia de Vacaria.  Lagoa Vermelha perde sua emancipação para Vacaria em 1878, passando a ser distrito desta. O Mesmo ocorreu com São Francisco de Paula em 1878 (1ª Emancipação), com Santa Cristina do Pinhal em 1880 e também Taquara em 1886.

Destes Municípios, outros também se emanciparam formando uma árvore genealógica de filhos, netos, bisnetos e trinetos. Mas, Santo Antônio da Patrulha, também continuou gerando novos municípios no decorrer do século XX, é o caso do Município de Rolante que após um longo processo de mais de trinta anos, emancipou-se em 1954, e do município de Caraá, o filho mais novo emancipado em 1996.

REFERÊNCIAS:
BACKES, Cônego Wunibaldo. Santo Antônio da Patrulha nas Memórias do Padre Wunibaldo – 1932-1954 – Porto Alegre: EST, 1992.
BARROSO, Vera Lúcia Maciel (Organizadora). Santo Antônio da Patrulha – Re-conhecendo sua História. Porto Alegre, EST, 2000.
_______. Presença açoriana em Santo Antônio da Patrulha e no Rio Grande do Sul. Porto alegre, EST, 1993.
LOPES, Luiz Roberto. História do Brasil Contemporâneo. 5ª edição, Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990.
NEIS. Padre Ruben. Guarda Velha de Viamão – No Rio Grande miscigenado surge Santo Antônio da Patrulha. Porto Alegre. EST. Sulina, 1975

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre; Mercado Aberto; 1980.

FOTO:
Rua da Direita (hoje Avenida Borges de Medeiros). Início do século XX. Acervo da Fundação Museu Antropológico Caldas Júnior.


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